TOQUE DE AMOR
A busca do amor inicia-se como uma jornada ao nosso íntimo e depois se manifesta em nossas demonstrações exteriores.
Em nossas relações interpessoais, demonstramos o amor por meio de gestos ternos, gentis, afetuosos. Revelamos o amor usando palavras positivas, solidártias e encorajadoras, mas confiamos mais nas expressões de amor manifestadas por contato físico. Infelizmente nossa cultura impõe limites rígidos a nosso comportamento nesse aspecto. Dessa forma, nossa consciência social limita o contato físico a ocasiões simbólicas e socialmente aceitáveis.
Um exemplo de comportamento limitado quanto a contatos físicos são as demonstrações públicas de afeto. Algumas pessoas as dão e outras não. Muitas vezes, os espectadores rejeitam os contatos físicos em público porque, em nossa sociedade, tudo o que vai além do aperto de mão ou do tapinha nas costas tem implicações sexuais. É bem verdade que, em certos casos, há implicações sexuais, e então os espectadores, percebendo que não se trata de um mero contato amigável e afetuoso, tem a impressão de estar diante de um show de voierismo.
O amor é uma força motriz por trás da vida. Como, naturalmente, somos seres desprovidos de amor, nós o buscamos desesperadamente ou lamentamos o fato de ele nos haver escapado. Entretanto, contemos aquela parte do amor que é a mais confiável, mais satisfatória, mais confortadora a outro ser humano. Nos nos fechamos; guardamos nossas mãos e o nosso corpo para nós mesmos. Para nós, tocar é extremamente difícil, ainda que reconhecendo a enorme necessidade que temos de fazê-lo e, mesmo quando tocamos, é de modo insatisfatório.
Cada um de nos nasce com necessidades diversas. Uma delas é a necessidade de contato físico. Portanto, o contato físico não é apenas um estímulo agradável, mas uma necessidade biológica.
O toque revela o verdadeiro sentimento em relação a determinada pessoa. Trata-se de uma atitude que não permite escondermos com facilidade o que sentimos. Na troca de palavras, podemos disfarçar nossas intenções por meias verdades, por ambigüidades, pode-se dizer uma coisa sugerindo-se outra bem difertente. Já o contato físico, não. Ele é tangível e fala diretamente ao coração. Não se pode dirfarçar uma emoção ao tocar alguém, a menos que a pessoa queira ser enganada. Quando paramos de amar ou retemos nosso amor, enraivecidos ou para castigar, é quando expontaneamente transmitimos nossos sentimentos estabelecendo ou evitando contatos físicos.
Para alguém que esteja tendo um mau dia, um abraço apertado pode ser mais confortador do que todas as palavras de apoio que conseguíssemos externar. Receber uma pessoa com um abraço afetuoso é o mesmo que dizer: estou muito feliz em vê-la!
Do coração vem o amor e, do amor, o contato físico flui naturalmente. Certamente há muitas maneiras de amar e se relacionar com as pessoas. Como, também, há muitas barreiras à nossa liberdade de expressão na forma de consciência social.
O contato físico expressa-se sem palavras. É uma expressão física de nossa postura em relação ao mundo. Podemos dizer "não" se nos tocarem de forma imprópria e indesejada naquele momento especial. Portnanto, é mais importante podermos aprender a tocar com consciência, resepito e ternura.
Quando, ainda feto, vivemos durante nove meses no útero materno, e nossa pele foi constantemente estimulada por impactos rítmicos transmitidos através do líquido aminiótico. Foi aí que tivemos nossa primeira experiência com a estimulação tátil.
O bebê aprende a respeito do amor e do contato físico ao ser amado e tocado. Ele sente falta do calor, do suave movimento de embalo e da segurança que teve por nove meses. Só aos seis meses seus sentidos da visão, da audição e do tato separam-se. O contato físico acarreta muitos benefícios à criança. Conforme começa a se distinguir do mundo que a cerca, ela expande seu conhecimento. Ao ser tocada, tocar objetos e explorar o próprio corpo as crianças descobrem as dimensões espaciais, os tamanhos, as formas, as texturas, o prazer e o amor. Os bebês reajem ao mundo através dos seus sentidos. Já no primeiro ano de vida seu cérebro desenvolve 70 por cento de seu peso adulto. Quando estimulamos seu sentido do tato, estimulamos seu cérebro.
Ao tocar o proprio corpo, uma criança contribui para sua imagem corporal. Essa auto-exploração liga-se à sensação do corpo e às reações dos outros a tal iniciativa. Os pais que desencorajam o filho quando à auto-exploração estão eliminando uma parte importante do seu aprendizado. O contato físico proporciona à criança um forte senso de segurança psicológica, confiança, aconchego e bem-estar. Além disso ajuda a superar o medo e a sensação de isolamento.
Na tumultuada adolescência ocorre muita confusão a respeito de amor e sexo, toques e afeto. A necessidade básica de tocar e ser tocado, reprimida e desprezada por muitos anos, torna-se não apenas uma busca impessoal da satisfação sensorial, mas também uma busca simbólica de amor, de intimidade, de segurança, de aceitação, de aconchego e de confiança. O adolescente, encontrando geralmente bloqueadas as principais vias de satisfação tátil por contato físico junto aos pais e amigos, aprende buscar a satisfação por meio da exploração sexual. Faz experiências consigo mesmo e com os outros e, falhando, passa a evitar totalmente o contato com o grupo. Além do medo do prazer e outros de origem freudiana, o medo do homossexualismo também restringe o comportamento no que se refere aos contatos físicos. Fora do domínio da atividade sexual, permite-se que as mulhers toquem outras mulheres mais do que a homens. Os homens, porém, evitam tocar pessoas do seu sexo. Dada a força crescente do movimento "gay", os outros segmentos da sociedade cada vez proibem e condenam mais o contato físico entre pessoas do mesmo sexo, principalmente entre homens. Muitos jóvens simplesmente recolhem-se à concha pessoal que é seu corpo. O que podemos observar é que a busca desesperada por sexo não se deve tanto ao ato em si, mas a uma necessidade de ser abraçado, ser tocado, ser tranquilizado de uma forma mais fundamental, de mergulhar no próprio corpo e encontrar gentileza, ternura e compreenção.
É natural que um jóvem com os hormônios superativados tenha necessidade de sexo, mas os toques e os abraços é o que mais importam. Muitos jóvens sentem medo de que a garota o considere "maricas", se ao menos não tentarem pressioná-la a fazer sexo.
Ao nos tornarmos adultos, perdemos muitas oportunidades de tocar. No geral, há menos contato com os pais, incluindo o físico, e sobram poucos amigos com os quais interagir. Nossa comunicação física passa a ser feita por palavras. O tipo e a quantidade de contatos na vida adulta varia de pessoa para pessoa e depende da idade, do sexo, da situação e do relacionamento entre os envolvidos.
Alguns casais gozam de um pouco de contato físico, ainda que apenas no intercurso sexual. Nossa sociedade volta-se cada vez mais para o contato pago ou licenciado. Pode haver muitos motivos para a procura dos serviços pagos, mas certamente o contato corporal, um subproduto, sem dúvida, pode servir para aumentar a freqüência do uso. Muitas mulheres vão ao médico apenas para ser tocada, mesmo que tudo seja de maneira estritamente profissional.
Nossa sociedade dispõe de massagistas, tanto das terapeutas quanto das mais suspeitas, de cabelereiros e barbeiros, de quiropráticos, de médicos especializados, de grupos de encontro e trabalho corporal e de conselheiros.
Ao envelhecermos, as oportunidades de contato físico diminuem ainda mais. Para um cônjuge viúvo o contato físico pode cessar quase totalmente.
Independente da idade, todos precisamos de contato físico, em especial quando estamos assustados, deprimidos, solitários ou cansados. Nada mais pode expressar tanto, oferecer tanto alívio e segurança, tanta ternura e conforto quanto um toque afetuoso.
Nicéas Romeo Zanchett
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com.br
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