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domingo, 27 de maio de 2012
UM VIAGRA PARA AS MULHERES
UM VIAGRA PARA AS MULHERES
Os remédios contra a disfunção sexual masculina melhoraram a vida de muitos homens, mas criaram problemas para as mulheres que não sentem desejo. Elas se queixam de que seus maridos estão fazendo sexo de forma mecânica e para elas as cobranças se tornaram um tormento. Muitas não se acanham em buscar ajuda nos consultórios, mas as que foram educadas de forma repressiva sofrem caladas e apenas satisfazem o desejo de seus companheiros sem sentir nada.
Até pouco tempo atrás, acreditava-se que os problemas sexuais femininos só poderiam ser resolvidos no divã. Nos últimos anos as pesquisas avançaram deixando claro que muitas aflições delas são de ordem orgânica, como a baixa na produção dos hormônios femininos, principalmente entre as mulheres na pós-menopausa. Uma das formas mais utilizadas para aumentar a libido feminino é o uso de doses extras do hormônio testosterona. Entretanto os especialistas recomendam mais estudos, pois temem que o uso prolongado do medicamento possa aumentar os riscos de infarto e derrame. Investiga-se também o uso de alguns antidepressivos que poderiam aumentar o desejo sexual de mulheres que não sofrem de depressão. Mas, ao que tudo indica, eles apenas melhoram o seu bem-estar e não necessariamente despertam o desejo sexual.
Calcula-se que cerca de 30% das mulheres sofram de uma disfunção sexual chamada de Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo (TDSH). É uma situação caracterizada pela ausência de desejo sexual por um período superior a seis meses. São mulheres que tem parceiros, sabem obter prazer, são capazes de ter orgasmo, mas simplesmente não tem vontade.
A sexualidade feminina sempre foi vista como misteriosa, seja por sua anatomia, seja pelo prazer, pela gravidez e pela capacidade de dar à luz. Foi na década de 1950, com os estudos de Alfred Kinsey , que o interesse pelas manifestações sexuais femininas aumentou. Segundo os médicos especialistas, o desejo hipoativo é uma grande fonte de angustia feminina. Na terminologia vulgar são chamadas de frígidas.
A verdade é que a sexualidade feminina é muito mais complexa do que a masculina, tanto que Freud a chamou de "o continente obscuro". O desejo das mulheres envolve fatores demais para permitir definições categóricas como "Transtorno do Desejo Sexual Hipoativo". Não se pode contabilizar quantas vezes por semana uma mulher tem desejo sexual e nem definir o que é sexualidade feminina normal. É muito difícil separar situações de desgaste afetivo de situações de desinteresse sexual.
O Viagra (masculino) foi descoberto por acaso, quando se buscava uma droga para hipertensão. Constatou-se que ele dilatava os vasos sangüíneos e provocava ereção do pênis. Já o problema das mulheres é muito diferente, pois não se trata simplesmente de inflar um órgão para permitir a prática do sexo, mas sim de provocar desejo em alguém que não o sente.
A idústria farmacêutica está tentando resolver por meios químicos um problema que tem natureza mais ampla. Seria uma tentativa semelhante ao uso de medicamentos para tratar depressão, tristeza e Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade. Está em estudos e testes uma substãncia chamada flibanserina. É a mesma que no final dos anos 90 não pode ser utilizada como antidepressivo. Ela opera alterando no cérebro os níveis de serotonina, um neurotransmissor que influi na sensação de bem-estar. Já existe e está sendo comercializado um gel chamado Viatop-AM fabricado pelo laboratório Ativus Farmacêutica que promete melhorar o desempenho sexual. Trata-se de uma espécie de pomada que deve ser aplicada na região do
clitóris. É composto de duas substâncias: arginina e mentol. Enquanto a primeira age como vasodilatador aumentando o fluxo sangüíneo na área genital, a segunda garante maior sensibilidade e cria uma agradável sensação de calor na região do clitóris. Como se trata de aplicação direta o efeito é imediato. Mas, como se pode constatar, não de trata de um remédio para induzir a mulher a sentir desejo sexual.
Qualquer que seja o medicamento, para uma mulher que tenha falta de desejo moderado, provavelmente não valerá apena. O tratamento feminino não pode de forma alguma ser comparado ao do masculino. Os homens que se medicam com Viagra, o usam não para sentir desejo, mas para conseguir , iniciar, prolongar ou concluir uma relação por falta de ereção. O problema é resolvido aumentando o fluxo sangüíneio no pênis. Sua ação é mecânica e local. É por essa razão que os testes feitos com Viagra para tratamento da disfunção sexual feminina não tiveram bons resultado.
A libido da mulher parece ter muito mais relação com a sua mente do que com seus órgãos sexuais. Os remédios tentam interferir na base neurológica do problema e assim não conseguem atingir os objetivos. Todos os estudos mostram que um único remédio, qualquer que seja, não é capaz de resolver os problemas envolvidos na sexualidade feminina. Apesar das dificuldades no diagnóstico e tratamento da hipoatividade sexual, o problema existe e constinui para muitas mulheres um transtorno tão grave quanto à disfunção erétil é para os homens. Ele não pode ser diagnosticado como doença, mas é responsável por muito sofrimento que podem se manifestar como melancolia, depressão e mal-estar.
A transmissão do impulso nervoso no interior do cérebro é garantida por compostos químicos especializados que se ligam a cada um dos neurotransmissores - substãncias responsáveis pela transmissão de impulsos eróticos no cérebro (dopamina e noradrenalina) ou pelo bem-estar (serotonina). Por algum motivo a substãncia deixa de inibir a liberação de serotonina, isso aumenta a concentração do neurotransmissor e atrapalha a passagem do impulso erótico. Quando todas as substâncias estão na proporção certa, os impulsos eróticos fluem harmoniosamente.
A falta de libido é o mais comum, mas não é o único problema sexual que aflige as mulheres. A ciência reconhece e tenta tratar seus transtornos: a) Desejo sexual hipoativo - (TDSH) que causa falta ou ausência de fantasias sexuais ou desejo por alguma forma de atividade sexual, levando á dificuldade de relacionamento e ao sofrimento; b) Aversão sexual - quando a mulher sente persistente e permanente aversão ao contato sexual com parceiros; c) Falta de excitação sexual - a mulher tem dificuldade persistente de atingir ou manter a lubrificação vaginal necessária à atividade sexual; d) Anorgasmia - a inabilidade persistente de atingir o orgasmo após a excitação e o estímulo sexual, causando angústia e afetando as relações entre os parceiros: e) a Dispareunia - que consiste na contração involuntária dos músculos próximos à vagina impedindo a penetração do penis; o Vaginismo - quando a mulher sente muita dor durante a penetração.
As opções para tratar mulheres com falta de desejo sexual são restritas e nem sempre eficazes. Todas têm seus prós-e-contras e portanto é preciso rigoroso acompanhamento médico. As principais são: a) Com hormônios masculinos - Consiste na reposição hormonal à base de testosterona (existe na forma de gel, implante ou comprimidos). É indicado para a síndrome de deficiência androgênica (queda nos níveis de testosterona, falta de ânimo e diminuição dos pelos). É mais indicado para pós-menopausa. Os efeitos colaterais são a masculinzação, aumento do colesterol e alterações no fígado. É contraindicado no caso de histórico de câncer ginecológico. b) Reposição hormonal - é a reposição dos hormônios femininos estrógeno e progesterona, na forma de comprimido, gel, adesivo ou implante. Melhora os sintomas da menopausa e depressão e, indiretamente o apetite sexual. É indicado somente para mulheres na menopausa. Como efeitos colaterais têm o aumento no risco de trombose, AVC, infarto. É totalmente contraindicado para casos de histórico familiar de câncer ginecológico precoce. c) Os Fitoterápicos - O mais usado é o Tribulus terrestris, uma planta que estimula o LH, um hormônio ligado à produção de testosterona. É vendido na forma de comprimido. O medicamenteo é aprovado pela ANVISA, mas não existem pesquisas que confirmem sua eficácia. Funciona por causa do efeito placebo - psicológico. Não tem nenhum efeito colateral. d) Antidepressivos - A droga Bupropiona age nos neurotransmissores ligados ao prazer (dopamina e adrenalina). Também é usado no tratamento da dependência da nicotina como forma de substituí-la. Aprsenta bons resultados em pacientes com baixo desejo devido á depressão. Estudos de seu uso em mulheres não deprimidas ainda são inconclusivos. Seu principal efeito colateral é que pode aumentar o peso e atrapalhar o sono. É totalmente contraindicado para pessoas com histórico de convulsão.
Nunca na história humana se fez tanto sexo como atualmente. Depois da descoberta da pílula anticoncepcional a festa aumentou e entre erros e acertos a população mundial atingiu a insuportável cifra de sete bilhões de seres humanos. No novo século, início do terceiro milênio, a sexualidade ganhou mais força como atividade de lazer. Nunca se gastou e se ganhou tanto dinheiro com isso.
Nicéas Romeo Zanchett
http://gotasdeculturauniversal.blogspot.com/
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