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sábado, 25 de maio de 2013

O LADO FEMININO DO HOMEM por Nicéas Romeo Zanchett

O LADO FEMININO DO HOMEM 
Por 
Nicéas Romeo Zanchett 

                     Em seu "Banquete", há 25 séculos, Platão já dizia que em tempos que a memória pouco podia alcançar houve uma espécie humana estanha, denominada andrógina, nem homem nem mulher. Eles, ou elas, existem e estão por aí. 
                     Entre os romanos, o andrógino era considerado o ser perfeito. 
                     O mito grego, com profundas raízes na verdadeira natureza humana, o andrógino participa de ambos os sexos. Freud já tinha vislumbrado essa verdade ao declarar: "Todo o ato sexual é um acontecimento que envolve quatro pessoas". Esse tema foi aprofundado por Jung e confirmado pela biologia; graças à química moderna e à teoria dos hormônios, hoje sabemos ser impossível falar em sexo (masculino ou feminino) puro. 
                     Há no amor sexual uma contradição que desafia a lógica. A sexualidade é separação e união, antagonismo e atração. Como sugere Freud em sua última definição do ato sexual: "Uma agressão que busca a união mais íntima". O sexo é apenas uma das formas do dualismo universal. O andrógino é, ao mesmo tempo, o símbolo da indistinção primordial e divina e de toda experiência que leva o homem a reintegrá-la. Esta é a doutrina do mito iniciático que figura na maior parte das grandes tradições sagradas do Ocidente  e do Oriente; nelas encontramos algumas variantes, mas sobretudo, com elementos constantes. 
                     O andrógino é o símbolo da identidade suprema na maioria dos sitemas religiosos. Representa o nível do ser "não metafísico", a fonte da manifestação, que corresponde ao zero - a soma dos dois aspectos da Unidade +1 - 1 = 0. O zero, como ponto de início da numeração, simboliza a androginia, a divisibilidade e a multiplicidade. Assim, os espíritos libertos das leis dos mortais, com facilidade assumem o sexo e a forma que lhe aprouver. Na sua tragetória para a transcendência total, os místicos atravessam experiências alucinógenas de amor e matrimônio, nas quais se tornam côjuges apaixonados do seu deus.
                     - "Como dizes que Deus possui os dois sexos, ó Trismegisto?" - "Sim, Asclépio, e não apenas Deus, como todos os seres animais e vegetais". No princípio havia um ser (ou vários) que possuía os dois sexos. Ele se dividiu ou se deixou dividir  em duas metades: uma masculina, a outra feminina. Mas com a separação, com o corte, dirá Platão, surge o desejo de reconstituir a indistinção. O tema que é antigo (ver em "Banquete" de Platão) foi inteiramente revolucionado por Jung em sua "Psicologia do Inconsciente". A contradição interna do mecanismo sexual e o aspecto profundo das coisas, se revela sob a forma de uma síntese dos contrários. Nesse aspecto, os canais eróticos deixam transparecer o esquema biológico. A transferência da célula doadora, masculina, para a receptora, feminina, se dá pela violação sofrida pela segunda. Todos esses aspectos se refletem fielmente no comportamento normal do homem, com suas tendências poligâmicas, possessivas, conquistadoras e dominadoras e da mulher, na sua condição de monogâmica e fiel, mas também muitas vezes possessiva. Todas as aberrações humanas, encontram seu modelo na evolução extraordinária do seu amor animal. É uma espécie de condicionamento biológico da imaginação, onde inexiste solução de continuidade entre o comportamento animal e o comportamento humano; assim, podemos dizer que o homem, na sua essência, é um animal sexual.
                   Anima, que significa "alma" em latim, é o termo que o psicólogo Carl Gustav Jung escolheu para designar o componente feminino que existe na psique masculina. para ele, toda a aventura espelha, simbologicamente, o encontro necessário  que todo o homem deve ter com a sua própria "anima", a sua alma, para poder trilhar com êxito o caminho da "individualização" - o encontro consigo mesmo, com seu "Self". 
                    Hoje, mais do que nunca, vivemos a necessidade urgente de redefinições importantes, como aquelas que dizem respeito ao sentido real do masculino e do feminino e as das identidades de homem e de mulher no mundo contemporâneo. Precisamos descobrir quais são as novas imagens do homem e da mulher no atual momento histórico. O que é ser homem ou mulher e seus reais papéis no contexto constantemente mutável da nossa sociedade multicultural? É impossível encontrar a si mesmo ou descobrir qual é sua função no mundo enquanto  não definir, pelo menos em grau razoável, os traços reais dessa identidade. Todo esse processo de autodescoberta passa, necessariamente, pela conscientização e pelo aprendizado das nossas dualidade internas.  Carl Jung dizia: " o homem é masculino por fora e feminino por dentro; a mulher é feminina por fora e masculina por dentro". Em outras palavras, a anima, o componente feminino que existe na psique do homem; e a animus, o componente masculino  que existe na psique da mulher. Ele sabia muito bem que esse "tipo" que expressa a anima é um complexo de opostos. 
                     Há um "tipo" definido de mulher que sempre reaparece e Jung tomou a si a tarefa de descrever alguns de seus traços básicos, servindo-se para tanto de suas próprias vivências da anima, daquelas de seus pacientes e dos registros da literatura, da pintura, da mitologia e do folclore   Segundo sua teoria, a anima é o componente feminino instalado  no interior da psique masculina e a ela corresponde  uma imagem que a expressa. Essa imagem de mulher que os homens carregam é supra-individual, ou seja, possui características comuns em homens distintos, mesmo de épocas ou culturas diversas. 
                     A anima é bipolar e portanto pode aparecer como positiva num momento e negativa no outro; ora jovem, ora velha; ora mãe, ora donzela; ora uma fada boa, ora uma bruxa; ora santa, ora prostituta. Além dessa ambivalência, a anima também tem conexões "ocultas" com "mistérios"; com o mundo da escuridão em geral, e por essa razão costuma ter uma aura religiosa. Via de regra ela é mais ou menos imortal, por estar fora do tempo; sempre que emerge com algum grau de clareza, se relaciona de modo peculiar ao tempo. 
                     A sabedoria hindu nos ensina: "A união dos sexos é a única realidade; a existência separada deles é uma ilusão". É a descoberta dos hormônios que justifica esta interpretação do amor sexual. Cada vez mais se impõe à nossa atenção o fato de  existir uma tendência complementar, comum talvez à matéria animada e inanimada, a fundir, reagrupar, retrogradar e reintegrar seu estado original, voltar à unidade; a atração dos sexos poderia ser apenas uma das modalidades, a oportunidade oferecida ao casal para compensar a divisão dos sexos, para remediar a dualidade do amor.  

                             "Coração desgastado, num tempo desgastado,
                                   Liberta-te das redes do bem e do mal: 
                            Sorri outra vez, coração, no cinzento crepúsculo
                         Suspira, coração, de novo com o orvalho da manhã! "
                                                                .
                               (Transcrito de Poemas Escolhidos, Londres, 1950)
Nicéas Romeo Zanchett
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