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domingo, 14 de abril de 2013

O CIUME PATOLÓGICO

O CIUME PATOLÓGICO 
      A paixão pode ser uma perigosa fronteira entre o amor e a loucura. Quando estamos apaixonados temos nosso equilíbrio orgânico alterado pelo poder irresistível dos hormônios sexuais. É tão poderoso que afeta até mesmo a nossa aparência física, transformando-se tanto num tratamento de beleza quanto num destruidor de belas feições. A origem da nossa pele é a  mesma do sistema nervoso, a crista neural. Tanto que nos casos de estresse e de infelicidade, aparecem micoses, eczemas e até queda de cabelos. O ciúme patológico sensibiliza todo o corpo e altera seu funcionamento neuroquímico. Quanto muito acentuado, esse desequilíbrio, leva o apaixonado a um estado de loucura muito perigoso. Ele se anula, investe tudo na pessoa amada e não consegue ver mais ninguém a seu redor. O doente apaixonado vive obcecado pelo medo de perder sua amada. É capaz de verdadeiras loucuras para agradar ao outro e muitas vezes perde a capacidade de se concentrar em suas rotineiras atividades. O pior é que geralmente nem percebe que está à beira do abismo.
      Sentir ciúmes é basicamente sofrer por uma situação hipotética, decorrente de interpretações distorcidas que o cimento faz dos sinais que percebe. Os sentimentos gerados por ele são tão primitivos que muitas vezes nos arrastam a atitudes completamente fora do nosso padrão de comportamento. 
      A relação amorosa cria laços únicos, talvez os mais intenso que somos capazes de formar. Além do envolvimento sexual há a união, cumplicidade e entrega. Quando uma traição vem romper esses laços, a raiva que sentimos é proporcional ao afeto anterior. Portanto, quanto maior o amor mais perigoso é o ciúme.

      A reação ao sentimento de ciúme por uma traição é diferente entre os sexos. A mulher ciumenta busca desesperadamente uma forma de salvar a relação. Já o homem, na mesma situação, fica mais enraivecido, mas a maior preocupação é proteger sua auto-estima. Com a entrada em cena de uma rival, algumas mulheres se encolhem, enquanto outras ficam tão tomadas pela disputa que "vencer" se torna a questão principal. Essas reações estão ligadas à infância e são explicadas pela psicanálise como fantasias relacionadas ao complexo de Electra. ( aquela idade entre os 4 e 7 anos que as meninas competem com a mãe na conquista do pai). Com a chegada da idade adulta, qualquer rival que ameace o equilíbrio de uma relação amorosa reaviva esses sentimentos reprimidos. 
      Em geral quando estamos com ciúmes reagimos com gritos, choro, acusações ou até mesmo com um silêncio ressentido. Nesse contexto, nem apresentamos nossos sentimentos de forma clara, nem criamos um clima propício para discutir o assunto amigavelmente. Basta imaginar que a pessoa amada está interessada por alguém para que nossos dias se encham de sofrimento. E tanto mais sofremos quanto mais somos desconfiados, vendo ameaças onde não existem. 
       Os ciumentos mais violentos são as pessoas possessivas e inseguras. Para elas o amor sempre se  transforma em armadilha, pois estão certas de que, se não controlarem a pessoa amada, ela irá trair ou até sair de sua vida. Por serem dessa forma não conseguiram desenvolver a própria autonomia e com essa atitude tentam fabricar uma identidade para si através da "fusão" com o parceiro, de quem ficam dependentes. Diante de uma desconfiança entram em pânico e com medo de que sua metade possa deixá-lo. Não são raros os casos extremos que levam ao crime.  
        O sofrimento causado pelo ciume sempre vem acompanhado da vergonha e da culpa por sermos ciumento. Melhor seria se, em vez de ficarmos horrorizados com nossos sentimentos, tentar entendê-los e aceitá-los. Às vezes a sexualidade desenfreada que atribuímos ao nosso parceiro é apenas aquela que nós mesmos gostaríamos de estar vivendo.
        Ao contrário do que muitos pensam, o ciúme exagerado não é  prova cabal de amor, mas de insegurança e falta de confiança no parceiro por quem está apaixonado. O ciumento é abusivo e pode destruir o amor e a confiança da outra pessoa. Torna-se muito difícil estar num relacionamento no qual tenha que se manter sempre na defensiva e constantemente culpado por tudo o que acontece à sua volta. Tudo é muito cansativo e nenhuma explicação parece satisfazer o ciumento. Esse permanente estado de atenção gera estresse e muitas vezes o ciumento se torna dependente dos esforços que seu parceiro faz para não provocar suas suspeitas. A vítima do ciumento também pode ficar dependente das incessantes exigências que ele faz. Um relacionamento assim geralmente não tem futuro, pois o ciumento não muda a não ser diante de um ultimato. Ele precisa de terapia para se livrar das ansiedades que motivam seus ciúmes exagerados, mas dificilmente reconhece a realidade para buscar ajuda. 
       A diferença entre o ciúme normal e o patológico se confundem. Em sua forma normal pode ter uma função biológica ancestral. De acordo com os antropólogos, se não fosse necessário para evolução da espécie, esse sentimento já teria desaparecido. A paixão equilibrada é aquela cujo amor é estrutural, que gera felicidade e é o melhor cosmético que a natureza criou para manter a beleza. Quando a pessoa está apaixonada a pele fica mais bonita, os olhos brilham, os cabelos ficam mais sedosos. 
         Como tudo na vida, o amor e a paixão também precisam ser equilibrados.
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Nicéas Romeo Zanchett 

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