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segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O VÍCIO SEXUAL ESCRAVISA



Desenho de Romeo Zanchett


O VÍCIO SEXUAL ESCRAVISA

Quando alguém passa o tempo todo pensando em sexo e planejando encontros com novos parceiros, em vez de trabalhar, ter outras atividades prazerosas, curtir os bons momentos com familiares e amigos, deve acender uma luz de alerta.

O desejo sexual excessivo é um problema sério que até entrou para o CDI - Código Internacional de Doenças, publicado pela OMS - Organização Mundial da Saúde - que considera este tipo de comportamento como Transtorno Sexual Não Especificado. O debate sobre este tema já vem ocorrendo a mais de um século, mas ainda há dúvidas sobre como classificar o distúrbio.

Antigamente se falava do excessivo desejo sexual feminino que era chamado de ninfomania e sempre esteve classificado com outros casos considerados como simples desvio sexual. Estre estes podemos citar a homossexualidade, o sadismo, o fetichismo e a bissexualidade. Entretanto, com o avanço das mudanças sociais e pesquisas científicas, estes comportamentos, ao longo dos anos, deixaram de ser considerados patológicos e passaram a ser aceitos como preferências sexuais de certos indivíduos.

Sempre foi difícil estabelecer parâmetros para o comportamento sexual humano. Não existe um limite ideal para o número de orgasmos ou para o tempo gasto com fantasias ou relações sexuais. A dependência sexual nada tem a ver com a intensidade da atividade sexual. Portanto, a hipersexualidade ou mesmo a sua freqüência não são fatores decisivos para um diagnóstico preciso.

As relações sexuais são um meio de reprodução, uma fonte de trazer e uma forma de estreitar a relação entre os parceiros. No entanto, muitos as usam para se automedicarem, como forma de diminuirem a ansiedade, buscar aprovação dos parceiros ou descarregar tensões do dia-a-dia. Eventualmente, o sexo pode até satisfazer essas necessidades, mas não pode ser usado inadequadamente e nem ser a única estratégia do indivíduo para lidar com estas questões.

Quando se fala em compulsão sexual, as pessoas costumam levar para a brincadeira ou para o lado moral. Nem sempre quem sofre de dependência sexual consegue identificá-la com facilidade. Em geral o comportamento compulsivo começa no final da adolescência, início da vida adulta, e vai se agravando ao longo dos anos. O abuso sexual na infãncia e na adolescência pode aumentar a predisposição à compulsão sexual na vida adulta. O dependente sexual revela-se incapaz de criar relações estáveis com outras pessoas e de conter seus impulsos sexuais. Ele sempre precisa seduzir novas parceiras para se sentir vitorioso. É uma permanente busca de autoaprovação. Esse descontrole pode levá-lo a conseqüências trágicas. O problema se torna mais grave quando essa sexualidade não está funcionando a seu favor e acaba prejudicando outras áreas da vida. O dependente recorre à masturbação, pornografia, prostituição e relações casuais. Mas, mesmo depois de tanto sexo, a insatisfação permanece. É comum alguém com compulsão sexual sentir um vasio interior, um desânimo ou mal-estar após cada orgasmo. O sentimento negativo traz um desencantamento entre seu comportamento e seus próprios valores. Essa falha para atender as expectativas internas é uma permanente fonte de estresse e mal-estar. Depois do ato sexual vem o arrependimento, a ansiedade, a culpa e a vergonha silenciosa que o corrói por dentro.

O principal sintoma do vício são as conseqüências que alguém sofre por causa de sua atividade sexual. Existem pessoas que chegam a passar vários dias trancados num quarto, deixando trabalho e família em completo abandono. A necessidade de fazer sexo se sobrepunha a tudo e se torna uma vontade interminável que nunca se satisfaz. Com várias relações intensas e destrutivas acabam perdendo o controle sobre o próprio desejo. Alguns, depois, entram em profunda depressão e começam a beber de forma descontrolada, correndo o risco de se tornar também um dependente de alcool.

Um histórico de dependência próprio ou na família pode aumentar a predisposição à compulsão sexual na vida adulta. Aí se inclui a compulsão por comida ou compras, ter irmãos ou pais dependentes químicos ou com problemas de alcoolismo.

Alguns estudiosos fazem um paralelo entre o vívio sexual e a dependência em drogas como a maconha, cocaína ou crack. Mas, para outros, apenas o vício gerado por substâncias externas pode ser chamado de dependência. São as alterações químicas no cérebro durante o ato sexual que justificam a interpretação mais ampla da dependência. É que o orgasmo ativa, no cérebro, o mesmo circuito do prazer que as drogas proporcionam. Tal como elas, libera a substância neurotransmissora chamada dopamina.

O uso repetitivo de drogas, modifica a estrutura e função desse circuito cerebral gerando características de dependência. Há um aumento da tolerância à substãncia que leva o doente a aumentar o seu consumo, sempre exigindo doses mais altas e em intervalos cada vez menores. Quando ele tenta abster-se sente uma compulsão e tem a costumeira recaída. Isto também acontece com o compulsivo sexual, mas ainda não há estudos conclusivos de que o sexo possa promover este tipo de alteração neurológica. Entretanto, há motivos para acreditar que fatores biológicos tenham participação no excesso de sexo. Alguns tipos de demência podem causar um considerável aumento do desejo sexual. Certos remédios, como os usados para o mal de parkinson, podem elevar a libido e provocar a compulsão. É que eles alteram o efeito da dopamina que é o mesmo neurotransmissor do prazer sexual. Isto reforça a idéia de que existe algo diferente no funcionamento do cérebro de quem é compulsivo por sexo e quem é dependente químico.

Um dos principais obstáculos do dependente sexual é que ele não tem com quem falar a respeito do seu problema e o sigilo passa a ser uma fonte de sofrimento. Seu segredo é proprocional ao tamanho de sua compulsão.

Gostar de fazer sexo ou fazê-lo com muita freqüência não significa uma relação de dependência com este tipo de prazer. O que faz a diferenca é o sentido que atribuimos a ele. É esta realidade que os pacientes precisam resgatar.

A maioria dos compulsivos sexuais só busca ajuda quando levados pelas parceiras. Em geral ela descobre seu problema quando ele lhe transmite alguma doença venérea.

O dependente que tem sentimentos ruins relacionados ao sexo compulsivo fica mais disposto a aceitar ajuda. No entanto, muitos, principalmente os homens, até se vangloriam de seu intenso desejo e não concordam e nem aceitam o fato de que precisam de ajuda profissional.

O diagnóstico da dependência sexual é muito difícil. Um padrão aparentemente disfuncional pode não ser dependência, mas escolha. O profissional de saúde que trata desses casos precisa tomar cuidado para não ser contaminado pelas regras morais da sociedade. Sua principal função é ajudar as pessoas a adequar seus comportamentos a seus projetos de vida. Partindo dessa premissa, só é dependente sexual quem se reconhece como tal.

Nicéas Romeo Zanchett

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