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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O EROTISMO E A PORNOGRAFIA



Desenho de Romeo Zanchett

O EROTISMO E A PORNOGRAFIA

Tanto o erotismo como a pornografia não são fenômenos do nosso tempo. Na verdade é resultado de um processo lento, que veio amadurecendo ao longo dos séculos, acompanhando a evolução da humanidade, vivendo épocas de repressão e de permissividade, de tolerância e de repressão.

A década de 60, particularmente, foi marcada pela explosão sexual que se deu em todos os níveis. Os países da Escandinávia assumiram a iniciativa de incluir entre suas leis a permissão para sexo explícito. Depois foram seguidos pela Europa e Estados Unidos.

Os shows eróticos da Grécia Antiga eram realizados em festas e tinham inspiração divina. O Olimpo, montanha onde viviam os deuses, era um prodigioso teatro erótico. Diz a lenda que Zeus, o deus supremo, não hesitou em se transformar em touro ou em cisne para prestar sua divina homenagem de sedução à Europa, filha do rei da Fenícia, ou Leda, mulher do rei de Esparta.

Os gregos sempre foram ávidos pelas festas eróticas. As mais célebres delas eram as Priápicas, em homenagem ao deus da fecundidade. Nas festas de Esculápio, deus da medicina, a vigorosa participação de pastores da Arcádia não era nem um pouco inexpressiva na cura da esterilidade de mulheres que iam implorar ajuda a seu deus.

Embora a sociedade grega exercesse bem pouca repressão sobre a sexualidade, os verdadeiros "espetáculos eróticos" eram reservados às casas fechadas de algumas cidades. Eram lugares semelhantes a templos, onde se encontravam verdadeiras sacerdotisas do erotismo pago. As famosas Bacanais e as Lupercais dos romanos vieram depois, mas Roma, com o tempo, se tornou virtuosa e acabou inventando o strip-tease. As sainetes, mulheres que propunham inúmeras versões de como despir-se em público, continuam até hoje fazendo enorme sucesso entre os apreciadores.

Na Idade Média cristã, o corpo da mulher passou a ser encarado como algo satânico. A simples nudez era um "pecado" que podia custar a própria vida. A caça às bruxas, com suas centenas de torturas públicas, onde a acusada era despida para enfrentar o interrogatório antes de ser queimada viva, fornecia, aos frustrados e perversos apreciadores, espetáculos carregados de erotismo proibido.

Por muitos séculos, o amor (Eros) foi associado não apenas à morte (Thanatos), mas também ao inferno. Foram os cruzados que descobriram junto aos infieis, os prazeres do Paraíso de Alá. Para aquele povo Oriental, a contemplação das lascivas danças do ventre não era um pecado, mas o prenúncio da felicidade eterna reservada aos justos. O Islão sempre manteve lugar de destaque ao espetáculo erótico (que simboliza as impaciências e a chegada do prazer) e cobria de honrarias suas dançarinas, consideradas como semi-sacerdotisas. Encantados com a novidade os guerreiros cruzados troxeram o espetáculo das dançarinas para o Ocidente.

Com o Renascimento, a Europa redescobriu a Antigüidade. O homem aparece como medida de todas as coisas e as artes que representassem corpos nus passaram a ser permitidas e incentivadas. Na obra de Leonardo da Vinci, Dionísio e São João Batista aparecem em perfeita confraternização. Os contos eróticos de Boccacio correspondem ao gosto do momento e nas cortes não se hesitava em apresentar algumas sainetes com pequenas peças eróticas em um só ato.

Até o século XVIII, na França, as sainetes causavam furor em torno do Palais Royal e, a portas fechadas, nas nobres residências. Entretanto o gosto pelo fruto proibido persistiu e a folha de parreira cobria pudicamente as estátuas renascentistas, antecipando o triângulo de diamantes das futuras strip-teasers.

No faroeste americano, a grande marcha para o oeste selvagem levou mais homens do que mulheres em busca do ouro e dos espaços virgens. As mulheres que se aventuraram no rastro dos pioneiros não se contiveram em escrúpulos e montaram saloons sobre tablados de madeira e, ao som metálico de pianolas, não hesitavam em despir-se para merecer agradecidas recompensas dos freqüentadores.

Segundo historiadores, em 1847, no palco de new York's Americam Theater, uma senhora chamada Odell montou pela primeira vez um espetáculo de strip-tease, abrindo caminho para torná-lo uma instituição nacional americana. Foi um romance espetáculo, onde a mulher que estava em cena despia-se lentamente, ao ritmo musical, com movimentos sugestivos. Era a dança do despertar do desejo que no fim do seu longo ritual erótico revelava o último segredo de sua anatomia.

Na França, anos mais tarde, alguns quadros vivos permitiam expor longamente corpos totalmente desnudados. É interessante observar que não se dizia "corpos nus" e sim "desnudados", como se o estado natural do homem fosse estar vestido. Entretanto, uma ordem policial exigia que esses corpos estivessem completamente imóveis e imberbes para lembrar a estatuária antiga e dar uma condição "artística" indispensável.

A partir de 1985 o erotismo apareceu no cinema que permitiu multiplicar a imagem ao infinito. O cinema descobria sua vocação erótica e assim passou a concorrer em igualdade de condições com o teatro.

Com o passar dos anos, o erotismo e a pornografia se tornaram uma constante na vida das pessoas. Em todos os lugares, impulsionados pela intensa publicidade, encontramos o erotismo e a pornografia como indutores de venda. As manchetes nas revistas, todos os meses, anunciam "novidades imperdíveis" que aos poucos vão virando imposições. O apelo é sempre o mesmo: seduza, seja desejável eroticamente para ser alguém considerável. Qualquer problema estético ou sexual tem sua solução na prateleira de uma farmacia, no bisturi de um cirurgião ou num sex-shops.

Algumas pessoas são dotadas de forte carga erótica. Para elas o erotismo é um elemento essencial da vida, sem o que se extinguem, como se lhes faltasse o ar ou o alimento de que necessitam para viver.

Muitas vezes o erotismo se alimenta do ciume. Neste caso a pessoa precisa sentir ciume para ter prazer. O fato de imaginar a esposa ou a amante nos braços de outro o faz sofrer, mas, ao mesmo tempo, aumenta seu erotismo, seu desejo e prazer.

O desejo dos outros faz parte do nosso erotismo. É por essa razão que o homem deseja que sua mulher seja sedutora, bonita, desejada por todos. Também a mulher quer que seu marido ou amante seja o mais atraente, o mais bonito. Quer que as outras mulheres o desejem. Depois, tanto o homem quanto a mulher querem ter o objeto amado somente para si. Agindo dessa forma são levados a competir com todos, porque todos foram convidados a desejar o que eles desejam, mas consideram sua exclusividade.

Nicéas Romeo Zanchett

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