NOSSAS IMAGENS SENSUAIS DA INFÂNCIA
Todos nós temos uma coleção de pedacinhos de imagens da infância. Grande parte desses pedacinhos é de nossa aprendizagem sensual e sexual. Entre o primeiro e o quarto ano de vida, as experiências que moldam nossa identidade sexual são rechaçadas para o inconsciente.
Por volta dos quatro anos de idade, uma criança já tem definida sua personalidade sexual. Tudo acontece de forma natural, mas muitos dos valores sexuais são resultantes daquilo que essa criança ouviu ou até inconscientemente, aprendeu sem estar preparada. O que aprendeu ou vivenciou fará parte de seu arquivo de imagens infantis. Mesmo muito tempo depois de se afastar da repressão familiar, continuará a conter essa sensualidade e a comportar-se como pessoa que foi educada para ser assim.
De modo geral esse arquivo é maravilhoso, mas mesmo assim o mantemos escondido. São fantasias associadas a objetos não-sexuais que se vincularam às nossas sensações sensuais. Por exemplo: uma criança que está sendo amamentada e ao mesmo tempo brinca acariciando os órgãos genitais; o prazer que o pequeno filho sente ao ver seus pais se acariciando cheios de amor; a criança que olha para um belo jardim e ao mesmo tempo se auto-acaricia. Dessa forma um grupo de elementos não sexuais torna-se o substitutivo simbólico das experiências sexuais. A sensação do prazer da amamentação ou da paisagem, se torna associada ao prazer de uma inocente masturbação. As imagens prazerosas são a ligação com a nossa eroticidade escondida. Precisamos aceitá-las e valorizá-las, pois só elas poderão contar nossa hstória secreta esquecida.
Ao nos tornar-mos adultos elas aparecerão cautelosamente em nosso cérebro no momento em que estivermos envolvidos em jogo amoroso sexual. Quando isso acontece, inconscientemente, procuramos bloqueá-las para que não interfiram no prazer que estamos sentindo naquele momento.
Muitas pessoas guardam essas informações como se constituissem grave crime. É um sentimento de culpa que vai se agigantando a tal ponto que já não sobra espaço para o prazer na vida sexual adulta.
O importante é saber que todos têm essa coleção de pedacinhos escondidos que formam o mosaico da identidade sexual. Eles foram sepultados ali pelos pais e educadores quando ainda eram uma criança. O processo se deu de forma inconsciente e geralmente a pessoa nem lembra que esse universo existe e está guardado na sua psiquê. Desenterrar esse tesouro pode significar o reencontro de prazeres desconhecidos.
Freqüentemente lampejos de nossas memórias soterradas atravessam a lembrança como se fosse um filme já visto. Quando estamos fazendo amor, por exemplo, esses flashes acontecem e geralmente ficamos constrangidos. Mas eles não surgem por acaso. São partes de uma experiência anterior que vaza do inconsciente e tenta entrar em nosso pensamento. São imagens enterradas em momentos semelhantes. Provavelmente quando éramos criança vivenciamos essa sensualidade que agora está sendo chamada de volta. A variedade, conteúdo e qualidade das imagens que emergem são infindáveis. Precisamos aproveitar esses momentos para entrarmos em contato com as primeiras eroticidades de nossa vida. É maravilhoso porque trazem à tona as imagens das sensualidades que sentimos antes de sermos contaminados pelos tabus e interdições hipócritas da sociedade em que vivemos.
Quando soterramos a eroticidade de nossa infância inconsciente, ainda não tinhamos a experiência e a sensualidade de adulto. Fomos "educados", repreendidos ou castigados e passamos a acreditar que o que fizemos era realmente ruim. A partir de então não queremos repetir o gesto ou ação que causaram tanta reprovação.
Ninguém tem o direito de desrespeitar sua própria história sexual. É preciso abrir a porta do quartinho escondido, resgatando o passado, para revitalizar o presente. É buscando as experiências e fantasias sensuais da infância que podemos alcançar maior prazer no dia-a-dia de adulto.
Ao desencavarmos nosso primeiro passado erótico, estaremos nos reapropriando de algo sadio e ao mesmo tempo estaremos apagando para sempre os sentimentos de "culpa". Quanto mais "culpas" infantis pudermos apagar, melhores adultos seremos.
Às vezes iremos nos deparar com imagens chocantes. Podem até ser de abusos sexuais na primeira infância, mas a culpa, evidentemente, não é da criança. Aflorar essas imagens para a consciência é uma forma de liberar o inconsciente. Quando as imagens são por demais dolorosas e até traumáticas, é muito importante a ajuda de alguém. Um bom psicólogo ou psicanalista é o profissional ideal para conduzir esse retorno ao passado que permitirá a liberação definitiva. Casos como esses, infelizmente, são comuns e prejudicam muito o ego do adulto que, ao se sentir liberado de uma culpa que nunca teve, estará livre para viver plenamente sua sexualidade e ser mais feliz.
Abra logo a porta do seu quartinho secreto e libere suas sensuais fantasias infantis.
Nicéas Romeo Zanchett
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